Monday 24 September 2007

De Lisboa a Évora são uns euros de distância...

A Câmara de Lisboa decidiu há poucos meses instalar vários radares de controlo de velocidade nas principais artérias da cidade. Até aqui tudo normal. O pior é que essa instalação foi feita sem qualquer critério. Perdão com um único critério! Gerar receitas para os depauperados cofres da autarquia lisboeta que como se sabe deve 1,4 mil milhões de euros a fornecedores e não só… http://sic.sapo.pt/online/noticias/pais/as+contas+da+Camara+de+Lisboa.htm
Como se explica a instalação destes radares na Avenida General Norton de Matos (Segunda Circular)? Estamos a falar de uma vida onde há peões a atravessar com regularidade? Não. É verdade que sim, existem alguns (poucos) malucos que o fazem. Eu próprio já constatei isso. Mas esta via tem passagens para peões? Tem semáforos? Tem cruzamento de vias? A resposta a tudo isto é não! E pior. Alguém me explica o motivo para reduzir a velocidade naquela via que já é das mais lentas do país? Sim é verdade que durante a noite a velocidade ali ultrapassa os limites, mas durante o dia é ridículo. A mobilidade na cidade já é reduzida e com medidas destas só piora.
Para além disso são ridículos os limites impostos em alguns locais como é o caso da Segunda Circular. 80 kmh? É para rir. Não estamos a falar de uma artéria no interior da cidade. Pior há quem defenda a sua redução para 50 ou 60 kmh. “O OSEC-Observatório de Segurança de Estradas e Cidades (integrado por representantes das forças de segurança, engenheiros e juristas) coordenou um relatório de peritagem em que defende que a Segunda Circular só é segura a uma velocidade máxima de 50 ou 60 quilómetros por hora.” In Expresso http://expresso.clix.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/122562 Eu tenho uma sugestão: considero que a medida adequada era mesmo fechar a segunda circular!!! Acabava-se de vez com o problema.
Bem mas a questão é que Lisboa pode ser apenas a ponta do icebergue. Porque na última sexta-feira ouvi o senhor José Ernesto, presidente da Câmara de Évora, afirmar que pretende seguir o exemplo de Lisboa e instalar radares de controlo de velocidade em algumas zonas perigosas da cidade. Para já será apenas instalado o controlo automático de velocidade, mas dentro de seis meses a medida será revista… Ou muito me engano ou vamos ter afirmações do tipo: “as medidas introduzidas não foram suficientes e blá, blá, venham os radares que precisamos de euros nas contas da autarquia.” Consta que até quem visitar o templo de Diana a correr terá problemas com as autoridades…
Infelizmente não ouvi ninguém dizer, nem em Lisboa, nem em Évora o que será feito com essas receitas? Melhorar as estradas? Apostar em campanhas de condução civilizada? Renovação e melhoria da sinalização das vias?

Thursday 20 September 2007

Rendidos

Sendo o povo inglês tradicionalmente arrogante foi lindo ver como um português usou a sua imaginada arrogância para os dominar. José Mourinho deixou os ingleses rendidos. Bem como ele gosta. Na hora da saída o treinador português foi elogiado por praticamente toda a gente e até o PM inglês Gordon Brown o elogiou, ressalvando o trabalho que efectuou em nome do futebol inglês. O russo Abramovich é que vai ficar sem dormir durante muitas noites não tenho dúvidas. Quanto ao Mourinho parece-me que já deve andar a ver casas em..Espanha..Barcelona, provalvemente, se bem que o Real também o deseja.. Em três anos em Inglaterra Mourinho ganhou muitos títulos - faltou-lhe a Liga dos Campeões - e quebrou muitos recordes. Da sua passagem pelo Reino Unido ficam também grandes afirmações ao seu estilo: «Arrogante? Sou campeão da Europa e acho que sou especial.» Junho de 2004 «Se me derem quatro anos, prometo que ganhamos o título» 5 Junho de 2004 (enganou-se pq só precisou de um ano) «Eu não sou estúpido. Eu quero ganhar jogos com a minha equipa a praticar um bom futebol, mas o mais importante é ganha. Acho que as pessoas deviam perguntar-se por que é que o futebol inglês não tem sucesso no estrangeiro. Por que razão as equipas de Espanha, Itália e Portugal ganham provas da UEFA e as equipa inglesas não? Tudo aqui é fantástico, têm fantásticos jogadores, mas o Manchester foi a última equipa a ganhar alguma coisa em 1999.» Agosto 2004 «Como dizemos em Portugal, eles (Tottenham) trouxeram o autocarro e estacionaram-no em frente da nossa baliza. Ficaria frustrado se fosse adepto e tivesse pago 50 libras para ver este jogo. Eles caíam como se tivessem morrido aos cinco minutos de cada vez e demoravam mais cinco minutos quando faziam uma substituição.» Setembro 2004 «Há adeptos que gostam de mim e outros que não gostam de mim. É uma situação normal. Não vamos fazer disso um caso» Setembro de 2004, depois de ter sido cuspido no Chelsea-F.C. Porto (mal agradecidos os adeptos do FC Porto) «É mais difícil em Inglaterra. Nas duas épocas no F.C. Porto, quando ganhámos o campeonato duas vezes, era bastante fácil ganhar a liga." Novembro 2004 «5-4 é um resultado de hóquei, não um resultado de futebol. Num treino de três-contra-três, se o resultado chega a um 5-4 eu mando imediatamente os jogadores para os balneários porque é a prova que não estão a defender bem. Por isso chegar a um resultado desses num jogo de onze-contra-onze é apenas uma desgraça». Novembro 2004, comentando o resultado do Arsenal-Tottenham «O Sir Alex foi mesmo esperto, se assim se pode dizer, ao intervalo, ao colocar alguma pressão no árbitro. Na segunda parte foi apitar e apitar, falta e falta, batota e batota» Janeiro de 2005, depois do jogo com o ManUtd E esta uma das minhas preferidas: «Isto não é nada contra Sir Alex Ferguson. Na quarta-feira, depois do jogo estivemos juntos no meu gabinete a falar e a beber vinho. Infelizmente era uma garrafa de vinho muito mau. Quando for a Old Trafford jogar a segunda mão, no dia do meu aniversário, vou levar uma bela garrafa de vinho português» Janeiro 2005 FUTURO - dizia Mourinho em 2005, será que ainda pensa assim? «Depois do Chelsea quero trabalhar em Itália. É um futebol que não está a viver um bom momento, mas para um treinador é fantástico, porque é o futebol táctico na sua mais pura realidade. E gostava de treinar a selecção portuguesa. Para muitos a selecção é um trampolim, porque é a maneira de se dar a conhecer ao mundo. Eu não preciso, porque eu sou um treinador do mundo, mas seria a melhor maneira de encerrar da carreira. Gostava de conseguir para Portugal inteiro o que consegui com o Porto» Janeiro de 2005 «Sou muito mais do Barça do que muitos daqui, pessoas que às vezes querem que perca. Sofri muito nestes anos em que não ganharam títulos.» Fevereiro 2005 «A única coisa que é compulsiva em mim, é vir a ser seleccionador português. A minha ideia é trabalhar durante mais 13 anos. Por isso, se dedicar quatro deles à Selecção Nacional, ainda terei nove anos de futebol inglês pela frente.» Março 2005 «Tudo o que precisamos é de um grupo forte de jogadores e não de uma estrela de Hollywood. Mas que diabo são os galácticos? A imagem deles vem da sua vida social e a fama como jogadores acaba por ser um acréscimo. Desconfio desse tipo de galácticos. A minha dúvida não diz respeito às suas qualidades como futebolistas, mas ao facto de o ambiente que os rodeia poder vir a influenciar as suas exibições. Prefiro jogadores como o Drogba ou o Paulo Ferreira. Tenho um carro caro, mas não faço colecção. Não sou o tipo de pessoa que gosta de ter dez carros» Janeiro de 2005 ARRASADOR «A história de Frank Rijkaard como jogador não pode ser comparada à minha. A história dele é fantástica, a minha é zero. A minha história como treinador não pode ser comparada à de Frank Rijkaard, porque ele tem zero títulos e eu conquistei uma série deles.» Fevereiro de 2005 «Agora, em Portugal, os adeptos do Benfica e do Sporting gostam muito de mim. Sabem porquê? Porque como me fui embora finalmente têm hipótese de ganhar o campeonato» Abril 2005 «Disse que era especial porque tinha acabado de ser campeão e cheguei aqui com o ego no topo. Agora? Está ainda maior!» Abril 2005 «O Liverpool marcou, se assim se pode dizer, porque talvez deva dizer-se que o fiscal-de-linha marcou» Maio 2005 «Alguns clubes são tratados como demónios, outros são tratados como anjos. Não acho que sejamos tão feios que devamos ser tratados como demónios, nem acho que Arsene Wenger e David Dein sejam tão bonitos que devam ser tratados como anjos». Julho 2005 «Ele (Ricardo Carvalho) disse que não me compreendia e eu respondi que ele devia ter algum problema e tinha de fazer um teste de QI». Agosto 2005 «É o Mundo contra o Chelsea. Só estarão pelo Chelsea os meus jogadores, pessoas de Kings Road e de Fulham Road, e 50 mil habitantes da minha terra natal, Setúbal. É o Mundo contra nós.» Setembro 2005, antes do jogo com o Liverpool para a Champions «Eles têm tantos penalties durante a época que precisam de fazer qualquer coisa diferente...» Outubro de 2005, sobre a forma como Pires tentou marcar um penalty «Um dia, quando perdermos será feriado nacional. Mas estamos preparados para isso.» Outubro de 2005 «Pressão, para mim, é a gripe das aves. Sinto enorme pressão com o problema na Escócia. Não tem piada e tenho mais medo disso do que de futebol» Maio 2006 «Já não podemos (ir ao mercado). O cobertor é curto, mas não posso comprar um maior porque o supermercado fechou. De qualquer forma, estou contente porque o cobertor é de caxemira. Não é um cobertor qualquer» Fevereiro 2007 «Sim, acho que sou um grande treinador. Não há muitos que tenham feito o que eu fiz. Não digo que sou o melhor: acho que isso não existe. O que fiz em Portugal foi único. Ninguém fez o que o que eu fiz na história do futebol português, por isso sou o melhor na história do meu país. Acho que é suficiente. Portugal não é o terceiro Mundo. Por isso o que fiz lá é suficientemente bom», Fevereiro 2007 «O Jorge Costa foi inteligente. Tem de continuar o seu trabalho e não ligar a pessoas como o Jaime Pacheco que só tem um neurónio e mesmo esse trabalha mal» Fevereiro 2007 «Não percebo isso de coser os lábios, por que é que havia de me calar?», Março 2007 E as datas principais de Mourinho José Mourinho foi anunciado como treinador do Chelsea a 2 de Junho de 2004, pouco tempo depois de conquistar a Liga dos Campeões no banco do F.C. Porto. Ao longo de pouco mais de três anos, venceu duas Ligas inglesas, duas Taças da Liga e uma Taça de Inglaterra: 2 de Julho de 2004: Chelsea anuncia Mourinho como treinador 27 de Fevereiro de 2005: Vence o seu primeiro título em Inglaterra, a Taça da Liga, batendo o Liverpool (3-2) 30 de Abril de 2005: Vence o Bolton (2-0) e confirma a conquista do título da Liga inglesa 4 de Maio de 2005: Renova contrato com o Chelsea por cinco anos 29 de Abril de 2006: Vence Man. United (3-0) e confirma a reconquista da Liga inglesa 27 de Fevereiro de 2007: Vence Arsenal (2-1) e conquista nova Taça da Liga 19 de Maio de 2007: Arrecada a Taça de Inglaterra ao vencer o Man. United (1-0) 19 de Setembro de 2007: Chega a acordo com o Chelsea para abandonar Stamford Bridge Resta só dizer que a fonte deste resumo de frases foi do maisfutebol. Aqui: http://www.maisfutebol.iol.pt/noticia.php?div_id=1502&id=856432 http://www.maisfutebol.iol.pt/noticia.php?div_id=1502&id=856428 http://www.maisfutebol.iol.pt/noticia.php?div_id=1502&id=856282

Sunday 16 September 2007

Jornalismo onde estás?

Maddie McCann "desapareceu" em Maio na Praia da Luz, em Lagos. Desde aí não há dia em que não tenhamos que levar com uma enxurrada de notícias. Perdão "pseudonotícias" sobre este caso. Todos concordamos que o desaparecimento, ou pior, da criança britânica é preocupante, mas daí a que um simples caso se sobreponha aos restantes assuntos é demais. Os media ingleses começaram, mas a comunicação social portuguesa correu logo atrás. É inadmissível que após cinco meses do desaparecimento de Maddie o assunto continue a ser o tópico de abertura dos telejornais ou de manchetes na imprensa escrita. Se se compreende que assim seja quando há dados novos e relevantes - como a constituição dos pais como arguidos - há que de uma vez por todas sublinhar que 90 por cento do que foi dito até ao momento pelos jornalistas foi fruto de fontes deturpadas, fontes inventadas ou criado pela imaginação de cada um, para alimentar o assunto até - se possível - ao infinito. De acordo com a edição do JN de hoje ( http://jn.sapo.pt/2007/09/16/televisao/pode_o_caso_maddie_visto_como_constr.html) "o caso Maddie" lidera nas estações portuguesas este ano. Foi alvo de 1080 peças que duraram 54 horas. Em segundo lugar, segundo a Mediamonitor, ficam as eleições Intercalares em Lisboa (531 notícias, 23 horas), sucedendo-se a gripe das aves e o escândalo Casa Pia. Na última semana (de 6 a 11), os telejornais dedicaram-lhe 30% do seu tempo. A SIC foi a que mais notícias emitiu. Sem colocar em causa - de modo algum - a gravidade do desaparecimento de uma pessoa, em particular de uma criança, a verdade é que se os media se comportassem da mesma forma para todos os desaparecimentos teríamos um grave problema para resolver. É que segundo os últimos números Mais de 1,2 milhões de crianças são anualmente vítimas de tráfico humano. Em Portugal há pelo menos 8 menores cujo paradeiro é desconhecido. Se cada um destes casos ocupasse 54 horas - como o caso Maddie ocupou - então teríamos qualquer coisa como 432 horas de cobertura televisiva. Que o jornalismo já foi uma causa nobre, informou, educou os cidadãos em alturas muito complicadas e ajudou a ultrapassar barreiras e quebrar censuras, é agora indisfarçável que isso são águas passadas. A partir do momento em que é a Prisa, a Media capital, a cofina ou o Joaquim oliveira a ditarem as regras. Perdão a regra (leia-se dinheiro) o jornalismo não pode resistir. A investigação morreu, a reportagem definhou, o espírito crítico foi comprado pelo poder económico dos senhores/ empresas atrás referidos e a censura está aí. Nem precisa de se esconder por detrás do biombo, porque este governo (português) também estende a mão para ajudar. O novo estatuto dos jornalistas (http://www.portugal.gov.pt/NR/rdonlyres/973C87CD-4759-4A3F-8697-D9A20F01BB38/0/Prop_Estatuto_Jornalista.pdf)- que o PR - rejeitou à primeira (http://csocial.wordpress.com/2007/08/03/cavaco-silva-veta-novo-estatuto-do-jornalista/) acentua ainda mais o que acabei de dizer. Se for mesmo aprovado tornar-se-á no apocalipse do jornalismo português. Mas sobre assunto falarei mais tarde.