Não costumo falar de futebol, mas agora aí vai uma reflexão sobre o Euro 2004.
Euro 2004? Perguntará o leitor. É verdade. Vai perceber porquê.
Agora que (quase) passam 4 anos sobre o Euro já era tempo de alguém vir admitir os milhões de euros que o país está a pagar à custa da megalomania. Não está em questão a realização do Euro 2004, mas da construção de 8 estádios e renovação de mais 2 (Bessa e Guimarães). Dez estádios no total.
Neste momento existe uma manada de elefantes brancos, aliás, coloridos, já que os estádios são bastante coloridos.
Começo a chamar a manada de elefantes pelo sul:
1- O Estádio Algarve foi o primeiro elefante a nascer, porque ainda antes de estar concluído já se sabia que a sua utilização iria, futuramente, ser praticamente nula.
Por ano realizam-se - além dos jogos do Louletano que está numa divisão secundária (2a nacional) dois ou três acontecimentos que exploram, de facto, na sua plenitude as vantagens de um estádio com aquelas características: um jogo da selecção, automobilismo e, porventura, um festival de música no verão.
2- Encontramos o segundo elefante em Leiria - Um erro crasso. No antigo estádio as assistências aos jogos eram baixas, mas agora são rídiculas. Há jogos da União de Leiria com 500 espectadores. Nem nos jogos dos grandes há lotação esgotada. Se três vezes por ano - com Benfica, Sporting e FC Porto - o recinto é utilizado para os fins para que foi construído, no resto do ano está - como se diz em linguagem popular - "às moscas".
Mas o Leiria vai descer de divisão, o seu presidente e pilar do sucesso passado - sabe-se lá com que meios - está a contas com a justiça e no próximo ano - e nos próximos - pela liga secundária ficará. E aí o Estádio não estará apenas "às moscas", mas "a todos os insectos". E será preciso usar muito replente evitar uma epidemia em todo o estádio.
3- Aveiro - Erro de Leiria repetido. As assistências do Beira-Mar são, é verdade, superiores às do estádio de Leira. No entanto, era prevísivel que agora faltassem fundos para a sua manutenção, como faltam em todo o lado. Agora nem há dinheiro para substituir o que resta do relvado. E o clube, claro, atolado na liga de honra.
4- Construir 3 estádios em três distritos tão próximos geograficamente - de Leiria a Aveiro são 120kms -, já se sabia, foi uma burrice.
5- O pior é que a manada ameaça reproduzir-se. Se, eventualmente, os factores se conjugarem e o Boavista for punido com descida de divisão - pelo que o clã Loureiro terá engendrado no clube. E se a desgraça atingir a Académica, que tenta a todo o custo salvar-se da despromoção.
Se isto acontecesse ficávamos com cinco clubes com estádios do Euro a ser utilizados a um nível superior: Benfica, Sporting e FC Porto, Guimarães e Braga. Todos eles rentáveis e que mais cedo ou mais tarde vão pagar-se por eles próprios. Se a catástrofe não chegar a Coimbra e ao Bessa serão apenas três os elefantes.
Mas nessa selva que é o futebol português - sobretudo quando se fala de dirigentes -não ouvi ninguém dizer que no Euro 2008 tudo será diferente com bastante menos dinheiro:
1- Dois países organizadores (Áustria e Suíça)
2- Oito estádios
3- Apenas dois construídos para o Euro: Áustria - Klagenfurt - Wörtherseestadion e Suíça -Bern - Stade de Suisse Wankdorf
4- PIB de Portugal 2007 $19,800
PIB da Áustria 2007 $34,600
PIB da Suíça 2007 $34,600
Mas em Portugal tudo está bem, porque enquanto o bolso do contribuinte tiver umas moedas continuará a construir-se à grande e à portuguesa.
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