Wednesday 9 April 2008

Recibos Verdes, Ministros, Alentejo e a PORRA

Tenho orgulho no país onde nasci e sempre que alguém, aqui no estrangeiro, onde agora habito, me pergunta de onde sou digo-o como se dissesse o meu nome. Faço questão de vincar o nome Portugal, pronunciando-o de um modo claro, repetindo-o, se entender necessário. E coloco-me em bicos de pés quando menciono o nome Alentejo, porque sou alentejano e faço questão que toda a gente o saiba. Em Lisboa, Londres ou Hong Kong, mesmo que desconheçam a região. Preocupo-me em dá-la a conhecer, pelas melhores palavras que possuo no meu vocabulário. Empresto à minha imaginação a capacidade de encontrar um processo que permita a quem me ouve sentir a textura de uma fatia de pão alentejano, o aroma dos vinhos tintos, do paladar dos queijos e azeite ou apenas a sensação indescritível de contemplar a planície e recebam o calor do sol tórrido, da humildade e do acolhimento dos alentejanos. Mas sou filho da geração verde. E quando, dia após dia, oiço, vejo, assisto a um desfile de corta-fitas, engravatados – infelizmente eleitos – irresponsáveis, idiotas, políticos, sinto - por instantes - uma enorme vontade de voltar a Portugal para começar ou participar num movimento de limpeza do país. Como filho da geração verde – sinónimo para precariedade, vergonha, pobreza, escravidão ou na sua forma mais simples e popularmente reconhecida: recibos verdes – repulsa-me ouvir gente que, deveria (sei que não conhecem o significado da palavra) ter responsabilidade para contribuir para a eliminação deste flagelo que directamente afecta perto de um milhão de portugueses, na maioria, jovens. Eu fiz parte deste número até ao momento em que decidi soltar o grito do Ipiranga, deixar o emprego que ocupava há vários anos e com um ordenado ridículo que nem tenho coragem de contar aos meus melhores amigos. E é devido àquilo que vi, num tempo em que sobrevivi, e sofri que tomei, há alguns meses, a decisão – nunca fácil – de sair do país. Sei o que estou a perder por estar fora da minha região. Mas também reconheço o que me esperava se tivesse ficado. A cada vez que oiço as palavras “recibos verdes” conjugadas recordo-me do trauma que as mesmas me provocaram e (ainda) provocam. Não obstante estar longe de Portugal é inevitável ficar indiferente quando vejo o Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, Vieira da Silva, afirmar que os recibos verdes “em alguns casos são utilizados de forma excessiva”. Muito mais grave é quando acrescenta que “a sociedade tem de se mobilizar para resolver este problema”. E é aqui que chego à parte em que este alentejano deixa o texto floreado, o vocabulário equilibrado ou a sintaxe correcta para optar por um vocábulo simples, exemplificativo do sentimento provocado após a recepção pela massa cinzenta que em mim habita: PORRA! Mas não é a este gajo - que recebe um ordenado chorudo, tem ajudas de custo (estes políticos têm mesmo custos) de realeza, é rodeado de adjuntos, assistentes, assessores e outras espécies semelhantes sem que nenhum ministro sobrevive -, não é a este senhor que o líder da tribo Sócrates entregou a responsabilidade civil, moral, política de resolver o problema. “A sociedade” que resolva o problema? PORRA, mas quem é quem tem o poder legislativo, político e executivo? Somos nós – A sociedade – ou é o senhor ministro? E é neste momento que percebo que o meu país, do qual me orgulho, não merece um tratamento tão medíocre e sofrível que coloca em causa o passado e, gravemente, o presente e o futuro.

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