Friday 4 April 2008

Mugabe

O Zimbabwe nunca foi um paraíso, muito menos um paraíso fiscal. Pelo menos para o povo. O seu presidente e o seu partido sofreram no último fim-de-semana uma derrota significativa que pode ser ainda duplicada se Mugabe perder a presidência.
Cinco dias após as eleições gerais – presidenciais, legislativas (câmara baixa do Parlamento e Senado) e locais - a Comissão Eleitoral ainda não publicou os resultados no que à Presidência diz respeito, numa corrida a dois - opõe Mugabe ao líder do MDC, Morgan Tsvangirai.
E como era de esperar, Mugabe - no poder há 28 anos - não parece disposto a abandonar e, também como se esperava - aliás o normal em eleições em vários países de África - o presidente começou a preparar-se para se manter a sua ditadura a todo o custo.
As primeiras vítimas: os jornalistas, ocidentais, claro. Os espiões, na linguagem de Mugabe. Dois dias antes do processo eleitoral, o ministro da Informação, Sikhanyiso Ndlovu, deu a primeira nota. "O Governo não iria tolerar propaganda imperialista”, argumentando que alguns órgãos de comunicação ocidentais haviam instalado no Zimbabué “equipamentos sofisticados de difusão (…) e outros dispositivos de espionagem através da Internet”. Sabendo que Mugabe não iria largar facilmente o poder muitos cidadãos apressaram-se a cruzar as fronteiras para a Zâmbia, Moçambique, Botswana ou África do Sul.
No poder há 28 anos, Mugabe, de 84 anos, tem asfixiado o povo, ora à custa de direitos humanos, ora à custa do poder económico. Tanto que no último ano a inflação no país atingiu os 100,000 por cento. Escrevi correctamente: cem mil por cento. Ocupa o primeiro lugar do mundo, bem longe dos 60 por cento do Iraque.
Por exemplo: uma refeição num restaurante em Harare custa cerca de 127 euros!
Um pão custa 1 milhão de dólares = 21 euros!
E o preço do frango, por quilo, ronda os 15 milhões de dólares zimbabuanos, ou seja, a módica quantia de 319 euros!!! Isto num país, onde o PIB per capita (dados CIA 2006) é de 1,33 euros. E num país onde a taxa de desemprego é de 80 por cento. As perguntas que se impõem são: como (sobre)vive este povo e Mugabe até quando?
Na foto o pagamento de um jantar em 6 milhões de dólares zimbabuanos (127 euros)

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